Entrelinhas: José, homem de comunhão
por Por Maria Emmir Oquendo NogueiraEm nossa casa temos uma imagem de São José que pertenceu à avó de meu marido, que nutria por ele devoção especial. Deve ter, com certeza, mais de 50 anos e acompanhou-a até a sua morte. É uma imagem muito querida da família toda e é diante dela que frequente paro para rezar pelos homens da família […]
Em nossa casa temos uma imagem de São José que pertenceu à avó de meu marido, que nutria por ele devoção especial. Deve ter, com certeza, mais de 50 anos e acompanhou-a até a sua morte. É uma imagem muito querida da família toda e é diante dela que frequente paro para rezar pelos homens da família (3 filhos, 1 genro, 1 pai, 1 cunhado, 1 irmão, além do marido) e também para pedir-lhe que oriente o estado de vida dos dois que ainda não o definiram e providencie o pão nosso de cada dia.
Não foi sem razão que, ao receber do jornal Communio o convite para escrever sobre “José, homem de comunhão”, sorri, satisfeita com a providência divina, e sentei-me imediatamente diante do computador para por ali o que havia meditado dois dias antes: José, mais que nenhum homem em todos os tempos, foi homem de comunhão entre o céu e a terra à custa do alegre e generoso sacrifício dos seus planos pessoais, sonhos lícitos e expectativas perfeitamente normais.
Foi este o tema de minha meditação. Para fazer comunhão, é preciso fazer sagrado, isto é, sacri-ficar, nossa vida no que ela tem de mais prosaico, nos pequenos detalhes de cada dia e no que ela possa ter de mais grandioso ou heroico. Pequenos ou grandes que sejam, planos, sonhos, projetos, quando são feitos por uma pessoa de Deus, trazem sempre a marca da submissão à Sua vontade. Não são absolutos, quais senhores poderosos a cobrar continuamente uma meta a atingir. O alvo de todo plano de uma pessoa de Deus é: “Seja feita a Tua vontade e não a minha”.
Esvaziamento
Para fazer comunhão entre o céu e a terra, José precisou esvaziar-se de tudo, inclusive de si mesmo. Sua marca era ir ao encontro do desconhecido como se fosse a coisa mais conhecida e normal do mundo. Renunciou ao plano de um casamento como os de seus parentes e amigos para abraçar um casamento único na face da terra. Renunciou à oficina de Nazaré para acolher o desconhecido no Egito hostil. Renunciou a entender completamente o que se passava entre a Mãe e o Filho e aceitou com alegria não ter acesso às mesmas alturas de entendimento. Renúncia e acolhida. Kénosis e Koinonia. Esvaziamento e comunhão. Seria possível um existir sem o outro?
Para fazer comunhão entre o céu e a terra, José precisou ser comunhão entre o céu e a terra. Precisou colher do coração do Pai como era ser pai para o Filho. Precisou transformar-se aqui na terra na imagem do Pai do Céu tão perfeita quanto possível para que o Filho crescesse feliz em sua humanidade. Mais que qualquer pai da terra, José precisou ser pai no Pai, nEle e com Ele fazer comunhão, por amor ao Filho. Por amor, esvaziou-se para acolher o Amor. Por amor, esvaziou-se do desejo e do direito da co-criação para acolher o Amor que tudo criara no Filho e para o Filho. Por amor, fez comunhão com o Pai que se dá todo ao Filho e ao contemplar isso, deu-se todo a Ele. Como para o Pai, também para José, o Filho era o Centro de tudo, Aquele para quem tudo o que tinha, sabia, planejava, assim como todo o seu ser devia convergir.
Esquecimento de si
O amor levou José a esquecer-se de tudo, a esquecer-se de si e a identificar-se com o Pai para a felicidade – a glória – do Filho. Assim, de maneira única, irrepetível, em privilégio que nunca lhe será tirado, fez comunhão com o Pai por amor ao Filho. O Pai, por sua vez, encontrando nele instrumento tão aberto, vaso de argila tão dócil e abandonado, tê-lo-á certamente feito transbordar de Sua ternura, atenção, doação, alegria para com o Filho. E o Filho, vendo nele o Pai, alegrava-se, era feliz, e a ele se entregava com o mesmo amor do Pai que viera revelar. Fazia, assim, comunhão com ele.
Instrumento de comunhão entre o céu e a terra, entre as paternidades divina e terrestre, vivendo na terra o melhor possível o amor com que o Pai o cumulava para que fosse o melhor pai para seu Filho, José fez comunhão e foi feliz. Fez feliz a Jesus, fez feliz a Maria, faz feliz os que o buscam como intercessor para aprender a fazer comunhão. No entanto, com sua vida, deixa claro: fazer comunhão vai além de palavras. É fazer sagrado o próprio corpo, através da castidade; os próprios desejos e planos, através da obediência; a própria habilidade e inteligência, através da pobreza.
José, homem de comunhão, tudo fez sagrado, tudo sacri-ficou para fazer tal comunhão com o Pai e, com Ele, derramar-se no Filho de forma tal que pudesse fazê-lO feliz e pleno da glória que o Pai lhe dera desde antes da fundação do mundo. Sem ele, sem este homem que alegremente se dispôs a desaparecer para fazer comunhão com o amor do Pai, o Bebê Jesus, o Menino Jesus, o Adolescente Jesus, o Jovem Jesus, o Adulto Jesus, em sua humanidade, não teria sido tão feliz e cheio de glória, tão entregue ao Seu Pai do Céu como havia sido alegremente entregue ao Seu pai da terra e vice-versa.
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