O purgatório nos escritos dos Santos – Parte 2ª
por Antônio Gomes Pimenta | Boa SementeEm todas as épocas, a Igreja teve uma farta devoção às almas do Purgatório. E desta devoção, nasceu uma farta obra escrita. E a Idade Média foi pródiga em Tratados, Manuais, tanto de cunho devocionais, como Apologético (pra se defender do protestantismo nascente).
IDADE MÉDIA
(do ano 476 a 1453, da 2ª metade da Patrística até o final da Idade Média)
Em todas as épocas, a Igreja teve uma farta devoção às almas do Purgatório. E desta devoção, nasceu uma farta obra escrita. E a Idade Média foi pródiga em Tratados, Manuais, tanto de cunho devocionais, como Apologético (pra se defender do protestantismo nascente).
Assim temos:
– Santo Isidoro de Sevilha, a propósito dos sufrágios.
Citando o versículo de Mateus 12,32 sobre a remissão dos pecados no século futuro:
“Por isso, pensa-se que se trata de um costume ensinado pelos próprios Apóstolos” (Sobre os ofícios eclesiásticos, 1).
– Santo Odilon de um Cluny, que estabelece para todos os mosteiros beneditinos celebrar missas em sufrágio dos mortos. Cria-se aqui o dia de finados.
– São Juliano de Toledo em seu Prognosticon é um autêntico e pormenorizado tratadode escatologia.
Todo o segundo livro é consagrado ao estado das almas dos defuntos antes da ressurreição dos corpos.
– Santo Eloi, bispo de Noyon, depois de ter relembrado a diferença entre pecados mortais (crimina capitalia) e pecados insignificantes/veniais (minuta peccata) e calculado que existem poucas probabilidades de as esmolas, mesmo grandes, mesmo diárias, serem suficientes para resgatar os pecados mortais, recorda os dois julgamentos e o fogo purgatório.
– O Beato Alcuino de York no seu tratado Sobre a Fé na Santa Trindade (De fide Sanctae Trinitatis), ao comentar a 1Cor 3,13, equipara o fogo do julgamento (ignis diei judicii) ao fogo purgatório (ignis purgatorius)
A Idade Média é pródiga em Santos e santas místicas que tem obras próprias dedicadas ao Purgatório. Três místicas em especial, tiveram visões, locuções, etc sobre céu, inferno e purgatório:
– Santa Catarina da Bolonha e Santa Catarina Gênova, duas místicas com o seus Tratados do Purgatório, onde discorre sobre os tipos de penas, graus de purificação, duração, tipo de tormentos, etc.
Cito as duas:
– Santa Catarina de Gênova:
Digo mais: no concernente a Deus, vejo que o Paraíso não tem portas e ali pode entrar quem quiser, pois Deus é todo misericórdia e seus braços estão sempre abertos para nos receber na glória; mas a divina Essência é tão pura — infinitamente mais pura do que podemos imaginar — que a alma, vendo nela mesma a menor das imperfeições, prefere atirar-se em mil infernos a aparecer suja na presença da divina Majestade. Sabendo então que o Purgatório está criado para a purificar, ele mesma se joga nele e encontra ali grande misericórdia: a destruição de suas faltas (Tratado do Purgatório).
– Santa Francisca Romana foi levada através de uma visão ao purgatório. Ao entrar naquele lugar de suplícios, leu a seguinte inscrição:
“Aqui é o Purgatório, lugar de esperança; neste lugar as almas se elevam; é momento de trégua e purificação, diante do único desejo de salvação” (Tratado do Purgatório).
Tem outros grupos de Santos e santas, os Doutores da Igreja como Santa Teresa de Jesus, Santa Gertrudes de Birgen, Santa Hildegarda de Birgen, Santa Catarina de Sena, Beato Tomás.
de Aquino, Santo Antônio de Pádua, São Bernardo de Claraval, São Boaventura de Bangnoreggio, Santo Anselmo de Aoesta, São Pedro Damião, São João da Cruz, São João de Ávila, Santo Alberto Magno, etc todos eles tem alguma obra dedicada ao Purgatório, seja um livro, um opúsculo, um sermão, um tratado, uma suma, etc.
Kempis, Beato Henrique Suso, etc em vários de seus escritos falam sobre o purgatório e rezam pelas almas que lá se purificam.
Pra encerrar a idade Média, temos o grande Santo Tomás de Aquino, na sua obra magna Summa Theologica, onde dedica toda uma sessão sobre o Purgatório em suas várias facetas.
Vemos o que diz o Artigo 1,de sua:
“Art. 1 ─ Se há purgatório depois desta vida.
O primeiro discute-se assim. ─ Parece que não há purgatório depois desta vida.
- – Pois, diz a Escritura: Bem-aventurados os mortos que morrem no Senhor. De hoje em diante, diz o Espírito, que descansem dos seus trabalhos. Logo, os que morrem no Senhor não devem sofrer no purgatório, depois desta vida. Nem os que no Senhor não morreram, porque esses não são susceptíveis de purificação. Logo, depois desta vida não há nenhum purgatório.
- Demais. ─ Assim está a caridade para o prêmio eterno como o pecado mortal para o suplício eterno. Ora, os que morrem em pecado mortal entram logo a sofrer o suplício eterno. Logo, também os que morrem na caridade recebem imediatamente o eterno prêmio. Portanto, não devem passar por nenhum purgatório depois desta vida.
- Demais. ─ Deus, misericórdia suma, é mais inclinado a premiar o bem que a punir o mal. Ora, assim como os que vivem na caridade podem praticar certos atos maus, não merecedores do suplício eterno, assim os que estão em pecado mortal podem praticar certas ações genericamente boas, não dignas do prêmio eterno. Logo, assim como os condenados não recebem depois desta vida nenhum prêmio pelas boas ações referidas, também as más ações, a que aludimos não devem ser punidas depois desta vida. Donde a mesma conclusão que antes.
Mas, em contrário. ─ A Escritura diz: É um santo e saudável pensamento orar pelos mortos, para que sejam livres dos seus pecados. Ora, não devemos orar pelos santos do paraíso, pois em nada precisam das nossas orações. Nem pelos condenados do inferno, que não podem receber perdão dos pecados. Logo, depois desta vida há certos ainda não perdoados de seus pecados e que podem sê-lo. E esses tem a caridade, sem a qual não há remissão de pecados; porque a caridade cobre todos os delitos. Portanto, tais almas não sofrerão a morte eterna, porque, como diz o Senhor, todo o que vive e crê em mim não morrerá eternamente. Mas também não entrarão na glória senão depois de purificados, porque nada de impuro nela entrará como diz a Escritura. Logo, há um purgatório desta vida.
- Demais. ─ Gregório Nisseno diz: Quem vive na amizade de Jesus Cristo e não pode inteiramente purificar-se do pecado nesta vida, depois da morte purgá-lo-á nas chamas do purgatório. Logo, depois desta vida, há um purgatório.
SOLUÇÃO. ─ Do que já dissemos podemos com segurança concluir a existência de um purgatório, depois desta vida. Pois, se atendermos a que o reato da pena não desaparece totalmente depois de perdoada a culpa pela contrição; que nem sempre são delidos os pecados veniais com o perdão dos mortais; e que além disso, a justiça exige que o pecado seja expiado pela pena devida, havemos necessariamente de concluir que há de ser punido depois desta vida quem morre sem dar a satisfação devida, mesmo depois da contrição dos pecados e da competente absolvição. Portanto, Os que negam o purgatório colidem com a justiça divina e professam uma opinião errônea e alheia à fé: Por isso Gregório Nisseno, depois das palavras supra-citadas acrescenta: Eis o que cremos e pregamos para salvar o dogma da verdade; e assim o ensina a Igreja universal, quando reza para os defuntos ficarem livres dos seus pecados. O que não é possível entender-se senão dos que sofrem no purgatório. Ora, quem se opõe à autoridade da Igreja incorre em heresia.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ A autoridade citada se refere às obras que produzem o mérito e não aos sofrimentos que purificam a alma.
RESPOSTA À SEGUNDA. ─ O mal não tem uma causalidade perfeita, mas resulta de deficiências particulares; ao passo que o bem procede de uma causa perfeita, como diz Dionísio. Por isso qualquer defeito impede a perfeição do bem; mas qualquer bem não impede a consumação de um mal, porque nunca é o mal desacompanhado de algum bem. Por onde, o pecado venial impede a alma, que tem a caridade, de alcançar o bem perfeito da vida eterna, antes de ser purificada. Enquanto que o pecado mortal não pode impedir, esteja acompanhado do bem que estiver, a alma de sofrer imediatamente depois de separada, o sumo mal.
RESPOSTA À TERCEIRA. ─ Quem cai num pecado mortal dá a morte a todas as boas obras antes praticadas, e, mortas são todas as que praticar em estado de pecado mortal; porque, tendo ofendido a Deus, merece perder todos os bens que de Deus recebeu. Portanto, quem morreu em pecado mortal não receberá nenhum prêmio depois desta vida; ao passo que quem morreu na caridade, receberá depois desta vida um prêmio, que nem sempre delirá todo mal existente na alma, mas só o que lhe for contrário”
Segue a Idade Moderna na terceira parte desse artigo.
Antônio Gomes Pimenta
Consagrado na dimensão de Aliança da Comunidade Mariana Boa Semente.
Missão Quixeramobim (Sede)
1 Comentário
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Louvado e bendito seja Deus por sua misericórdia e pelas almas salvas através do purgatório.Bendito seja Deus por todo ensinamento aqui e pelas santas almas que abrem o coração nessa missão de salvar almas.