A Confissão não substitui a terapia, nem o contrário
por Por William RochaQuando escolher um e quando escolher o outro? 20 outubro 2020 Imagine o caso de alguém que confessa um mesmo pecado sempre. Isso já aconteceu com você? Parece que há um gatilho que ativa os mesmos comportamentos e reações e nos força a repetir os mesmos atos. Digamos que seja um pecado relacionado a ira. […]
Quando escolher um e quando escolher o outro?
Imagine o caso de alguém que confessa um mesmo pecado sempre. Isso já aconteceu com você? Parece que há um gatilho que ativa os mesmos comportamentos e reações e nos força a repetir os mesmos atos.
Digamos que seja um pecado relacionado a ira. Determinadas situações ligam um botão automático de ira e logo a pessoa perde a caridade com o próximo, usa palavras ferinas que machucam o seu coração e prejudicam a relação a longo prazo. O culpado pede perdão a Deus no sacramento da confissão e pede perdão ao próximo como penitência, retornando ao estado de Graça e tendo uma nova chance de “nunca mais pecar”.
Quem sabe seja um pecado relacionado a concupiscência da carne: sexo fora do casamento, ficas, traições, pensamentos impuros, pornografia, masturbação etc. Mais uma vez, um botão automático é acionado depois de um gatilho e logo a pessoa comete a mesma ofensa.
Talvez seja um problema de obediência. Há uma rebeldia enraizada e, por mais que haja a consciência do dever de obediência às autoridades, um botãozinho automático é acionado todas as vezes que a pessoa precisa se submeter a outra, perdendo assim sua ilusória autoridade máxima sobre si mesmo, põe-se, então, outra vez no seu pedestal e toma controle da própria vida.
Há tantos outros exemplos, mas permanecendo nesses três, já percebermos que talvez seja o momento de buscarmos terapia. É bem verdade que com uma boa direção espiritual ou acompanhamento, podemos dar passos enormes em direção a superação de determinadas fraquezas; também é certo que, quando Deus quer, um problema aparentemente impossível de ser solucionado, pode desaparecer no ar em segundos, com um só estalar dos dedos divinos. Entretanto, observando a realidade, Deus nem sempre usará dessas vias para nos cura.
No sacramento da reconciliação, confessamos a matéria do pecado e a frequência dele desde a última confissão, e o sacerdote age in persona Christi nos perdoando. Na terapia, expomos livremente o conteúdo interno da nossa demanda, e o terapeuta, munido de técnicas de escuta e percepção utiliza de abordagens seguras (cuidado!) para desatar os nós que nos aprisionam. No ambiente da terapia, o profissional age in persona da mãe, do pai, do bully da escola, do ex-namorado, do chefe etc. até que compreendamos a causa do sofrimento e a cura dele. Um sacerdote pode absolver nossos pecados, mas não pode consertar as distorções cognitivas que dão origem às ocasiões de pecado.
Um dos aspectos mais importantes a levarmos em consideração na escolha do psicoterapeuta é se ele respeitará a escolha religiosa do paciente e se ele entende a religião como algo mais do que um fenômeno sócio-cultural, gerador de neuroses, traumas e recalques. Ao contrário, respeitando suas escolhas e axiomas, nos fornecerá um ambiente seguro para falarmos sobre eventos e sentimentos desagradáveis, nos ajudando a ter uma mente e atitudes saudáveis diante das coisas, das pessoas e de nós mesmos.
Não conseguiria te dar uma estatística, mas percebo que muitas vezes nos vemos nesse ciclo vicioso e que a ajuda de um profissional poderia ser um novo marco no processo de conversão de vida. Assim como acreditamos que Deus utiliza a mão de médicos para salvar vidas, também podemos acreditar que Ele utiliza a Psicologia para lidar com os dramas humanos.
Espero que esse artigo tenha sido útil para você. Espero que, se você se perceber nesse looping de pecados repetidos, considere buscar terapia. Espero que quando você falhar, busque a Confissão o mais rápido possível. Espero te ver logo mais em outra conversa.
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