Dom João, ex-bispo de Iguatu, afirmou temer que os mais pobres “paguem o preço” da crise
Dom João receia que a conta seja paga pelos mais pobres e que sejam comprometidas as políticas sociais promovidas nos últimos anos pelos governos do Partido dos Trabalhadores.
O presidente da Cáritas Brasileira e arcebispo coadjutor de Aracaju/SE, dom João Costa, expressou sua preocupação com a atual crise política por que passa o Brasil, após o afastamento temporário da presidenta Dilma Rousseff. Dom João receia que a conta seja paga pelos mais pobres e que sejam comprometidas as políticas sociais promovidas nos últimos anos pelos governos do Partido dos Trabalhadores.
“Quem sempre paga o maior preço são os pobres e os mais vulneráveis”, enfatizou o arcebispo em uma entrevista concedida ao Europa Press durante sua primeira visita à Espanha como presidente da Cáritas, na qual aproveitou para visitar em Madri os Serviços Centrais da Manos Unidas, organização não-governamental que tem a Cáritas Brasileira como uma de suas principais parceiras.
“Nossa principal preocupação é que se respeite a legalidade e a Constituição Federal do Brasil, que assegura que direitos sociais e políticos não sejam violados”, manifestou dom João, recordando que Dilma Rousseff foi eleita de forma direta pela maioria dos cidadãos e cidadãs brasileiros e que seu afastamento do cargo se deu unicamente pela investigação de um possível delito de “maquiagem fiscal”.
Os últimos governos, afirmou dom João, criaram políticas sociais como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida, que têm ajudado aos mais pobres. Agora, resta o receio de que a mudança de governo — o cargo de Presidente da República é exercido provisoriamente pelo vice-presidente Michel Temer — e a eventual saída definitiva de Dilma Rousseff nos próximos 180 dias resultem na perda de tudo aquilo que foi recentemente conquistado.
“Estamos preocupados com a possibilidade de que os pequenos avanços obtidos pela sociedade brasileira enfrentem um retrocesso” como resultado desta crise política, destacou o arcebispo.
Preocupação com a ética dos políticos
O presidente da Cáritas Brasileira também expressou preocupação com a “moral e ética de nossos representantes políticos, porque há muita corrupção, muitos estão sendo investigados e alguns inclusive removidos de seus cargos e punidos”. “Os recursos que deveriam chegar aos pobres muitas vezes chegam aos bolsos daqueles que já têm muito”, lamentou o arcebispo. Esta “questão ética e moral preocupa muito tanto a Igreja quanto a Cáritas Brasileira”, sustentou dom João, defendendo a necessidade de que os valores desviados sejam devolvidos e que aqueles que tenham cometido atos ilegais sejam punidos.
Na avaliação do diretor-executivo da Cáritas Brasileira, Luiz Cláudio Mandela, que acompanhou dom João em sua visita, “a crise econômica no Brasil é resultado de uma crise política” e não o inverso, como tem ocorrido em outros países. Na opinião dos representantes da Cáritas Brasileira, parece pouco provável que possa haver uma explosão social no momento como consequência de toda esta situação porque, entre outras coisas, “os movimentos sociais não são violentos”, como ressalta Mandela.
Por outro lado, o arcebispo de Aracaju lamentou que os grandes meios de comunicação do país não estão contribuindo para criar uma “conscientização” social das classes menos favorecidas a respeito de seus direitos e assinalou que há um “processo muito embrionário” neste sentido. Também fez críticas às propostas para rebaixar a idade penal no país de 18 para 16 anos, já que considera que o que realmente se necessita no Brasil são políticas que sirvam para evitar que os jovens, especialmente os que vivem nas regiões mais vulneráveis, não sejam atraídos para as drogas e a delinquência. Segundo dom João, para muitos deles as opções são “a prisão ou a morte”. “O que eles necessitam é educação e oportunidades”, destacou.
Trabalho da Cáritas Brasileira
Em outra ordem de coisas, o diretor-executivo da Cáritas Brasileira ressaltou que no Brasil “todas as políticas públicas dirigidas aos pobres nasceram de experiências da sociedade civil, e boa parte delas foram contribuição da cooperação internacional de organizações como Cáritas, Manos Unidas ou CIDSE — esta, uma aliança internacional de ONGs católicas de desenvolvimento voltadas para a justiça social.
Tanto o presidente como o diretor da Cáritas Brasileira assumiram seus cargos no início de 2016. Dom João reconhece que está “encantado com o trabalho e com as ações tão belas que realiza a Cáritas, não somente no Brasil mas também em todo o mundo, e com a colaboração que recebe de outras instituições que trabalham com o mesmo objetivo: auxiliar os pobres”. O arcebispo admite que, em certas ocasiões, se sente um pouco assustado com o tamanho e a complexidade da instituição que preside, mas “o amor pela causa faz com que desapareça todo o medo”.
Fonte: Europa Press
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