O Decálogo: Encontro do amor de Deus e do amor do homem
A palavra Decálogo é uma palavra grega usada pela Septuaginta (tradução grega do Antigo Testamento) que significa literalmente dez palavras.
A palavra Decálogo é uma palavra grega usada pela Septuaginta (tradução grega do Antigo Testamento) que significa literalmente dez palavras. Na Tradição hebraico-cristã é o termo técnico utilizado para expressar o todo dos Dez Mandamentos da Lei de Deus, confiados a Moisés no monte Sinai segundo a narrativa do livro do Êxodo (Ex 20,1-17) ou no monte Horeb segundo Dt 4,9.5,1-21.
Nas duas narrativas o Decálogo está ligado ao êxodo, não enquanto livro do Êxodo, mas ao êxodo enquanto evento de libertação do povo de Deus das mãos dos egípcios. Ao mesmo tempo, o Decálogo faz parte da proposta da Aliança entre Deus e o povo eleito. Nesta perspectiva compreendemos que as Dez Palavras indicam as condições de uma vida liberta da escravidão do pecado,aberta à vontade de Deus e ao amor ao irmão; pois o Decálogo se apresenta em duas tábuas, que na tradição cristã são interpretadas à luz do Novo Mandamento:Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração… Amarás o teu próximo como ati mesmo” (Mt 22,37.39). Os três primeiros Mandamentos são relacionados à primeira tábua da Lei e dizem respeito à prioridade que o amor a Deus deve terem nossas vidas. Os outros sete Mandamentos são relacionados à segunda tábua e consideram as relações dos homens entre si. A partir daqui, compreendemos que além de indicar a primazia de Deus em relação a todas as coisas o Decálogo tem como intenção salvaguardar a grandeza, a dignidade e a honra do homem. Pois os três primeiros Mandamentos vinculam o homem a Deus, princípio e fim de sua existência.E os outros sete orientam o homem para o amor ao próximo. Amor este que o realizará no dom perfeito de si mesmo.
O Decálogo é para o homem fonte de liberdade e de amizade com Deus, pois através dele o Senhor revela ao homem sua santíssima vontade que é sempre benevolente, e que é também expressão da sua presença amorosa e verdadeira na vida do povo ao qual Ele oferece a Aliança. Ou seja, Deus, no Decálogo se deixa conhecer, demonstra o quanto ama o homem e o quanto se preocupa com as relações dos homens entre si. Sendo assim, no Decálogo, Deus eo homem se encontram, o amor entre Deus e o homem se realizam, o amor de Deus que se revela e o amor do homem que é resposta concreta ao amor de Deus através da obediência à sua vontade manifesta.
No Novo Testamento o Decálogo não é abolido, mas pelo contrário, o Mestre o leva à perfeição. Certa vez, um jovem veio a Jesus e perguntou-lhe: “mestre, que devo fazer de bom para ter a vida eterna?” Ao que Jesus respondeu: “se queres entrar na vida eterna,guarda os mandamentos” (Mt 19,16s).
Neste momento, sem tomar como objeto do nosso estudo a continuação desse diálogo, percebemos que Jesus indica a vivência dos Mandamentos como caminho para a eternidade. Guardar os Mandamentos é fonte devida, de vida em abundância, de vida eterna e de plenitude de vida. O seguimento de Jesus não exclui, mas ao contrário, implica também na observância dos Mandamentos.
É interessante notarmos que na sequência do diálogo de Jesus com o jovem rico encontraremos um caminho de pobreza aconselhado pelo Senhor. E se notarmos que no mesmo capítulo, o evangelista vai tratar do Matrimônio e da Castidade, percebemos assim, que Mandamentos e Conselhos Evangélicos caminham juntos fazendo parte ambos do seguimento de Jesus.
No Sermão da Montanha, que Mateus apresenta como a segunda Lei, ou como a Lei levada à perfeição, Jesus não somente retoma, mas também aprofunda os Mandamentos: “Ouvistes o que foi dito: não matarás… Eu porém vos digo: aquele que chamar o seu irmão idiota estará sujeito ao julgamento do Sinédrio” (Mt 5,21-22). Em Cristo, o Decálogo passa a ter valor de Lei interior que orienta não somente as nossas ações exteriores, mas os movimentos do nosso coração. Sendo assim, em Jesus, o Decálogo não pode mais ser relacionado às práticas moralistas, mas como caminho de conversão, pois o Senhor não quer somente as nossas ações, mas o nosso coração. Deus, que revela o seu amor também no Decálogo, quer o coração do homem, o centro das decisões e a sede dos sentimentos humanos.
O Decálogo, enquanto resposta amorosa dos filhos de Deus à vontade do Pai, hoje, se torna mais atual do que nunca. Basta olharmos para o mundo que está ao nosso redor, para cultura de morte que vai se instalando e compreenderemos que em Cristo o Decálogo responde às mais graves exigências de paz do mundo hodierno. E mais do que nunca, as Dez Palavras são fonte de vida(Dt 30,16).
Padre Sílvio Scopel
Missionário da Com. Católica Shalom em Fortaleza
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