Itinerário espiritual e litúrgico da Quaresma
por Márcio André Seminarista e Missionário da Comunidade Católica ShalomA Quaresma é um caminho de penitência e de conversão que nos conduz à graça própria da salvação de Deus e nos possibilita participar dignamente da alegria profunda e verdadeira, que é a ressurreição de Cristo. “Então Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo. Depois de ter jejuado quarenta dias […]
A Quaresma é um caminho de penitência e de conversão que nos conduz à graça própria da salvação de Deus e nos possibilita participar dignamente da alegria profunda e verdadeira, que é a ressurreição de Cristo.
“Então Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo. Depois de ter jejuado quarenta dias e quarenta noites, acabou sentindo fome” (Mt 4,1-2). A Igreja fornece a todo o povo de Deus um tempo litúrgico que propicia uma preparação para a celebração do mistério central da fé cristã, que é a paixão, morte e ressurreição de Cristo. Para tanto, somos convidados pelo mesmo Espírito que guiou Nosso Senhor a trilhar um caminho de aridez e sequidão.
O deserto que Jesus nos propõe a atravessar é a nossa história ferida pelo pecado. O homem é chamado a mergulhar em si mesmo, reconhecer as suas trevas e fragilidades, pois Deus deseja a salvação de todos. Para retornarmos a Ele, tornando-nos instrumentos agradáveis e santos irrepreensíveis aos olhos de Deus, sendo assim mergulhados pela sua graça, requer o reconhecimento e arrependimento de nossas faltas diante dele.
Na Semana Santa, iremos recapitular a nossa história de salvação, ao olhar com fé o grande gesto de amor de Cristo, que se entrega na cruz para lavar com o seu sangue os nossos pecados. A Quaresma, portanto, é o grande prelúdio. Ficamos durante quarenta dias rememorando que nesse estado em que nos encontramos aqui na terra, pelas concupiscências que trazemos em nós, somos profundamente necessitados de conversão e da graça de Deus, e que o demônio se utiliza disso para nos desviar do grande projeto de amor que Deus tem para cada um de nós.
“Lembra-te que és pó, e ao pó hás de voltar.” Com essas palavras, o sacerdote impõe nos fiéis, no início da Quaresma, as cinzas que representam a fragilidade e a pequenez humana. Essa verdade está reforçada na Palavra de Deus: “Abraão continuou: ‘Eu me atrevo a falar ao meu Senhor, embora eu seja pó e cinza’” (Gn 18,12).
Percebemos que é diante de Deus, observando e seguindo os passos do nosso Mestre, Jesus Cristo, é que redescobriremos o verdadeiro valor do homem: imagem e semelhança de Deus, modelados pela recriação do homem na graça derramada pela salvação que nos é dada por Cristo.
Liturgia
A liturgia do tempo quaresmal é-nos proposta em três ciclos diferentes, mas que são complementares. Dependendo do Ano Litúrgico (A, B ou C) em que viveremos na Quaresma, as leituras dos cinco domingos quaresmais representam três temáticas ou itinerários: batismal, Cristocêntrico-pascal ou penitencial (Cf. AUGÉ, Liturgia, 2004. p.312). No primeiro, o itinerário batismal, as leituras indicam-nos para o aprofundamento da nossa condição de batizados. Jesus apresenta-se para nós como imagem representativa ou da “água viva”, da “luz do mundo”, da “ressurreição” ou da “vida”. Já no segundo, enfoca-se a páscoa de Cristo, seja rememorando Jesus como o Templo que irá ser reconstruído, ou da imagem da serpente erguida no deserto por Moisés, ou ainda de Jesus como o grão de trigo que morre para nos dar a vida. Por fim, o último itinerário é o penitencial, o qual nos insere na catequese da penitência e conversão, seja observando a parábola do filho pródigo, a figueira amaldiçoada, ou a adúltera perdoada.
“Cada ano tu concedes aos teus fiéis preparar-se para as festas pascais na alegria dos corações purificados, para que, assíduos na oração e na caridade ativa, participem dos mistérios da própria regeneração e obtenham a graça de serem plenamente teus filhos”. Dessa forma, o missal romano nos indica o próprio sentido da Quaresma, que é um caminho penitencial e de conversão, para obtermos a graça própria da salvação de Deus, para que participemos dignamente da alegria profunda e verdadeira que é a ressurreição de Cristo.
Márcio André Teixeira Barradas
Seminarista e Missionário da Comunidade Católica Shalom
(artigo originalmente publicado na Revista Shalom Maná)
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