07/08/2021

Ninguém é capaz de resistir à força do amor de Deus

por Frei Patrício Sciadini

Não há uma pessoa igual a outra, não há um dom como os outros; tudo em Deus é igual e diferente ao mesmo tempo. 6 agosto 2021 O povo de Deus é a família de Deus, e nenhuma família e nenhum povo pode ser composto de uma única pessoa. Não devemos maravilhar-nos de que no […]

Não há uma pessoa igual a outra, não há um dom como os outros; tudo em Deus é igual e diferente ao mesmo tempo.

O povo de Deus é a família de Deus, e nenhuma família e nenhum povo pode ser composto de uma única pessoa. Não devemos maravilhar-nos de que no povo de Deus tenha pessoas que são fiéis e pessoas que, pela dureza de coração, preferem renegar a Deus e buscar a si mesmo como centro da felicidade e da vida. Muitas vezes diante das dificuldades da Igreja, da família ou da Comunidade, nos escandalizamos; isto acontece por causa da nossa fragilidade e da nossa pouca fé no Deus da vida, que ama e conduz o seu povo por meio dos desertos e noites.

Não devemos ser bons porque os outros são bons, mas porque cremos que o bem deve ser feito, porque tudo o que é bom nasce de Deus. Se nós refletirmos com atenção, iremos nos convencer de uma simples verdade que não se pode contestar: ninguém pode viver sozinho. Eu necessito de você para ser eu e você necessita de mim para ser você”. O que importa é encontrar pessoas certas para o nosso caminho.

Precisamos, como diria Teresa de Ávila, de “amigos fortes de Deus” e amigos fortes, com amizades que não se deixam corromper pelo jogo do dinheiro, do poder e de outras coisas humanas. Os nossos olhos devem estar sempre fixos no Cristo Jesus e nas coisas do alto. A comunidade nasce da vivência das três virtudes teologais, da fé, da esperança e do amor.

O olhar para Deus nos ajuda a compreender que a Comunidade não é só o resultado de um esforço humano, mas um dom do amor e da gratuidade de Deus, que guia o seu povo e o reúne ao seu redor, para que, vivendo o amor possa acolher a todos os que buscam a paz e a verdade.

Não ficareis em silêncio

Já estamos acostumados a escutar o nosso amigo Isaías, que nas leituras litúrgicas é o mais premente, porque a sua palavra chega ao âmago do nosso ser, e cura as nossas feridas, mas sabe também colocar o dedo nas feridas e recobrar a cada um de nós qual é a nossa missão.

O povo desanima com facilidade e tem necessidade de escutar a voz forte dos pastores que corrigem os defeitos e os animam para retomar o caminho. Hoje em dia, às vezes, buscamos uma linguagem “doce, refinada como açúcar” quando seria necessário que a verdade nunca fosse manipulada e ‘doceficada’. Há na nossa língua brasileira um ditado que é bem significativo e tem sabor bíblico: “pão, pão, queijo, queijo”. Mas na bíblia poderíamos buscar as palavras de Jesus: “Seja, porém, o teu sim, sim! E o teu não, não!”

Deus chama Sua amada, o povo, para deixar todos os ídolos que a destroem e voltar ao seu único Deus e Senhor. Deus resgata não com a força e nem a violência os que ele ama, mas com a misericórdia que seduz. Ninguém é capaz de resistir à força do amor de Deus e nem do amor humano quando é sincero e verdadeiro. A noiva resgatada e amada é a alegria do povo. Esta noiva hoje é a Igreja que deve ser purificada para ser vestida para a festa.

Os carismas são vestidos novos

Deus não é uma máquina de xerox, que faz todas as coisas iguais. Ele é pura criatividade, porque é amor e amor não pode ser repetitivo. Quando o amor se repete perdeu a sua força de inovação e se torna estrutura que mata o espírito. Hoje nós devemos ser muito atentos
ao vento do Espírito, que sopra onde quer, como quer e quando quer, e nos socorre em todos os momentos de nossa vida.

A Igreja está mudando continuamente, porque é animada pela força do Espírito, mas os “homens e mulheres de igrejas” que são mais animados pelas estruturas do que pelo Espírito não querem mudar, querem ficar no mesmo caminho. No texto de hoje, temos a chave para compreender como devemos mudar. Os “carismas” são uma força do Espírito Santo, que é infundida em cada batizado, mas deve ser liberada de tantas coisas para agir. Antes de mais nada, devemos ter olhos puros e purificados para ver ao nosso redor que Deus age de maneira maravilhosa em todas as pessoas.

Não há uma pessoa igual a outra, não há um dom como os outros; tudo em Deus é igual e diferente ao mesmo tempo. E você, que dom acha que possui? Perceba esses dons com discernimento de pessoas sábias e coloque-os não ao seu serviço, mas ao da Comunidade. Todos recebem dons de Deus. Não se pode e nem se deve tê-los para uso pessoal.

Transformar a água em vinho

Por que na Igreja os carismas não acabam? Creio que as bodas de Caná da Galileia nos dão uma resposta que eu nunca tinha pensado. Nenhum de nós é vinho puro, é o vinho dos carismas. Às vezes ele parece acabar, mas quando menos esperamos, a intercessão de Maria pela pobreza da humanidade, da Igreja intercede para que este vinho puro do carisma, do amor e da presença de Jesus nunca acabe. É ele, Jesus, quem nos manda encher as nossas “ânforas” vazias com a água da nossa humanidade, da nossa fragilidade, e aí acontece o milagre.

Os carismas do vinho bom, da profecia da solidariedade, do amor, da partilha voltam a existir, a Igreja de hoje se torna melhor que a Igreja de ontem, a vida religiosa de hoje é mais autêntica que a de ontem, mais visível. O vinho da novas Comunidades de hoje
surpreende pelo seu sabor e pela sua força. Quando o vinho acaba, não devemos ter medo, mas devemos ir até Jesus, e aí haverá novo vinho, que vai fortalecendo a cada um de nós.

Tentemos ler as bodas de Caná como a festa dos novos carismas, que são vinho bom que inunda a Igreja e as comunidades. O vinho velho e o novo não são contrários. Cada um tem o seu valor e sua importância. Não se eliminam, mas se completam.

Oração

Virgem Maria, nossa Mãe, como nas bodas de Caná viste que faltava o vinho, vê com amor o vinho que falta hoje, e faz que Jesus transforme a nossa água no vinho bom dos novos carismas, que dê sabor, vida à Igreja de hoje.

Amém.


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