18/04/2020

Autoconhecimento: olhar para si ou para Deus?

por Daniel Rubens Santiago

Numa primeira reflexão, penso que se pode dizer que o autoconhecimento não é resultado de uma “investigação psíquica”. Quando se fala em autoconhecimento, no contexto da vida espiritual, não se pode confundir esse “aposento” – para ficar na linguagem teresiana – com um processo de autoanálise psíquica.

Pouco antes do período quaresmal, escrevi um texto no qual compartilhava um convite do Senhor ao deserto, entendido como solidão do encontro consigo mesmo[1]. Percebi que, a partir daí, poderíamos avançar um pouco e buscar algumas pistas de reflexão para entender melhor esse “autoconhecimento” posto por Santa Teresa, junto com a recordação dos pecados, como “o pão com que havemos de comer todos os dias os manjares, por delicados que sejam, neste caminho da oração”.[2]

Numa primeira reflexão, penso que se pode dizer que o autoconhecimento não é resultado de uma “investigação psíquica”. Quando se fala em autoconhecimento, no contexto da vida espiritual, não se pode confundir esse “aposento” – para ficar na linguagem teresiana – com um processo de autoanálise psíquica.

Muita é a influência de ideias psicológicas e psicanalíticas no mundo e na vida daqueles que se propõem ao seguimento de Cristo. É como se, de forma perceptível ou não, as ideias de Freud (sua crença no determinismo e consideração do psíquico como “última instância” do humano) fossem mais marcantes na leitura que fazemos de nós mesmos, do que a doutrina Católica, as antropologias mais conformes à nossa fé e as palavras de grandes místicos como Santa Teresa. O psiquismo é posto num lugar totalizante do humano, num reducionismo que não enxerga o que Viktor Frankl chama de “dimensão espiritual”.

Não é à toa que se pode ver, atualmente, uma preocupação, a meu ver, exagerada, de muitos padres, grupos e líderes católicos, com temas do universo psi, em detrimento do anúncio da verdade salvífica de Jesus Cristo. Verdade que redime o homem todo, inclusive em sua vida psíquica.

Assim, o que se quer pontuar é que o autoconhecimento, no contexto da vida espiritual, é, sobretudo, uma GRAÇA. Não se trata de mais uma redução psicologista. É uma graça atual que nos permite perceber, a partir de um “lugar superior”, o nosso verdadeiro e muitas vezes “mau fundamento”.

Ao contrário do que possa parecer não é um “emaranhar-se num pensamento sobre si”, mas um fruto da vida de oração (abertura ao Outro) e da correção fraterna (abertura ao outro). Assim, pode-se dizer que o autoconhecimento jamais é o resultado de um egocentrismo. É uma graça que não nos fecha e nem pode nos atingir se estamos fechados. O enclausuramento sobre si é, na verdade, adoecedor. É a abertura a Deus que nos revela quem somos aos Seus olhos. E essa revelação nos redime.

Sim, conhecemo-nos ao contemplar a Ti, Senhor! Nos Teus olhos e pelos Teus olhos podemos nos conhecer sem desanimar… Ver nossos pecados sem desesperar… Amar-nos sabendo o verme que somos… Porque, por Tuas chagas, fomos curados! O castigo que nos trás a paz pesou sobre Ti! E na Tua ressurreição encontramos a nossa! E… ainda que pudéssemos nos conhecer como Tu nos conhece, o que é, por certo, um disparate, jamais poderíamos nos amar como Tu nos ama.

Santa Teresa de Jesus, rogai por nós!

 

Daniel Rubens Santiago

Graduado em Psicologia pela UNICATÓLICA

Mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC)

[1] Disponível em https://www.comunidadeboasemente.com/artigos/eu-fugiria-para-longe-e-pernoitaria-no-deserto-sl-5455-8/

[2] TERESA DE JESUS, Santa. O livro da vida. São Paulo: Paulus, 1983.

1 Comentário
  1. Leninha disse:

    Maravilhosas colocações! O autoconhecimento à Luz Deus nos devolve a consciência da abundância da graça de Deus em nós.

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